Chapter 5: Capítulo 5: O Custo da Sobrevivência
A floresta parecia ter se tornado mais escura após a queda da serpente. Mesmo com a vitória temporária, o ambiente ao redor de Victor e Ragnar continuava a emanar uma sensação de perigo iminente. O ar estava pesado, e cada passo que davam parecia mais arriscado do que o anterior. O ruído das folhas secas e das raízes retorcidas parecia amplificado, como se a própria floresta estivesse esperando o momento certo para reagir. Victor sabia que, apesar de sua colaboração com Ragnar, a confiança ainda era um terreno incerto e traiçoeiro.
Eles caminharam em silêncio por mais algum tempo, sem trocar palavras. Ragnar parecia imerso em seus próprios pensamentos, mas Victor não conseguia deixar de observar os movimentos do caçador, tentando discernir suas intenções. A experiência de Ragnar em combate e sobrevivência era clara, mas Victor não poderia se dar ao luxo de ser ingênuo. Cada gesto, cada palavra proferida por seu companheiro poderia esconder uma intenção oculta.
"Temos que estar prontos", Ragnar disse de repente, quebrando o silêncio. "Essa vitória foi pequena, mas nos deu um tempo. O que vem a seguir não será tão fácil."
Victor assentiu, sem responder imediatamente. Ele ainda processava o que havia acontecido. Ele sabia que sua habilidade gravitacional era poderosa, mas não o suficiente para mudar o curso de uma luta quando o inimigo tinha uma resistência extraordinária. A serpente não era um oponente comum. Sua resistência à manipulação gravitacional era algo que Victor não havia antecipado, mas, ao mesmo tempo, isso lhe forneceu uma valiosa lição: nem tudo podia ser controlado ou moldado conforme sua vontade.
Enquanto isso, Ragnar já estava observando o terreno à sua frente, atento a qualquer sinal de perigo. A experiência de Ragnar era inegável, mas Victor começava a perceber que sua confiança poderia ser arriscada. O homem parecia estar constantemente à procura de algo. Algo mais do que apenas a sobrevivência.
A floresta parecia mais densa conforme continuavam sua jornada, e a névoa começou a aumentar novamente, engolindo os dois até quase desaparecerem completamente da vista. As árvores, agora com troncos mais grossos e raízes mais profundas, pareciam se fechar ao redor deles, como se quisessem prendê-los naquele lugar. O ar estava mais frio, a sensação de estar sendo observado mais palpável. De repente, uma dúvida insidiosa surgiu na mente de Victor: e se Ragnar não fosse apenas um aliado? E se ele tivesse outras intenções? A desconfiada observação de Ragnar sobre a luta com a serpente não parecia ser apenas de um guerreiro pragmático; havia algo mais ali. Uma espécie de avaliação, como se estivesse ponderando sobre o verdadeiro valor de Victor.
"Não estamos sozinhos", Ragnar disse, interrompendo os pensamentos de Victor.
Ele parou de repente, fazendo Victor se afastar um pouco para não esbarrar nele. Ragnar olhou para o horizonte, onde as árvores pareciam mais espessas. Seus olhos estavam fixos em algo à frente, mas Victor não conseguia ver nada além da espessa neblina. A tensão na atmosfera aumentava. Victor podia sentir o pulso acelerado do próprio coração enquanto se preparava para o pior.
"Vamos seguir em frente", Ragnar disse, antes de continuar a caminhada com passos firmes. "Este lugar não é apenas um campo de caça. Ele está cheio de coisas que prefeririam estar longe de nós."
Victor não entendeu completamente, mas seguiu em silêncio, mantendo a vigilância aguçada. Sentia a gravidade ao seu redor, como se estivesse sendo puxado por forças invisíveis. A cada passo, ele estava mais consciente de que a floresta não era apenas um cenário de desafios, mas também de truques e ilusões, onde até o mais forte poderia se perder.
Conforme avançavam, Victor começou a perceber mudanças sutis no ambiente. As árvores pareciam mais distantes, a luz começava a ficar mais fraca e a vegetação estava cada vez mais intrincada. Foi quando ele sentiu, pela primeira vez, uma força que não tinha nada a ver com a gravidade. Algo mais insidioso estava presente. Algo que não podia ser tocado ou visto, mas que estava criando um peso invisível no ar.
"Algo está errado", Victor murmurou, parando por um momento e olhando ao redor.
Ragnar virou-se rapidamente para ele, um olhar de alerta em seu rosto. "Não pare. Não olhe para trás. Isso é o que eles querem."
Antes que Victor pudesse questionar, um som abafado veio de trás deles. Ele se virou rapidamente, mas tudo o que viu foi uma ondulação estranha no ar, como se a própria realidade estivesse se distorcendo. Em um segundo, o espaço entre as árvores parecia se expandir e contrair, criando uma ilusão de que estavam sendo cercados por um muro invisível.
"Isso é uma armadilha", Ragnar gritou, correndo na frente e puxando Victor pelo braço. "Corra!"
Mas antes que pudessem avançar mais, a neblina ao redor deles se fechou, e uma forma nebulosa apareceu à frente. Era uma criatura de sombras, com olhos brilhantes que se destacavam na escuridão. Sua forma era indefinida, mas sua presença era esmagadora.
"Vamos ter que lutar", Ragnar disse, tirando uma adaga de seu cinto. "Você pode tentar usar sua habilidade, mas não podemos esperar muito. Ela se adapta rapidamente."
A criatura, com um movimento rápido, se lançou contra eles, e o chão ao redor começou a tremer. O ataque era imenso, mas a força de sua presença parecia mais ameaçadora do que qualquer outro ataque físico que Victor já tivesse visto. Ele não tinha escolha. Usou sua habilidade de manipulação gravitacional, tentando reduzir a pressão ao redor da criatura, mas como a serpente, a entidade parecia resistir a qualquer tentativa de controle. A cada segundo, a gravidade parecia se tornar ainda mais instável.
Enquanto a luta contra a sombra intensificava, Victor percebeu algo crucial. A habilidade de Ragnar em combater ameaças físicas era inegável, mas havia algo em seu comportamento que não podia ignorar: ele estava aproveitando a confusão. Ragnar estava, de alguma forma, calculando suas ações, como se o combate fosse apenas mais uma parte de um jogo maior. Isso aumentou a desconfiança que Victor sentia. Ragnar parecia mais interessado em observar o próprio desenvolvimento de Victor do que realmente ajudá-lo.
No calor da batalha, Victor lutou para manter sua concentração. A sombra parecia se multiplicar, os ataques ficando mais rápidos e traiçoeiros, mas ele também sentiu algo se mover dentro de si. Era como se estivesse começando a entender as limitações de sua habilidade, não apenas para manipular a gravidade, mas para entender o que realmente estava em jogo. Sua sobrevivência estava mais ligada à sua capacidade de ler as intenções de seus aliados do que à força bruta ou aos truques que poderia usar contra os inimigos.
Victor deu um último esforço, manipulando a gravidade ao redor da sombra de forma mais precisa, com uma nova percepção da situação. Ele concentrou todo o seu poder na criação de um campo gravitacional denso e opressor, finalmente conseguindo sufocar a criatura que se desfez em uma nuvem de fumaça escura. Mas, ao cair ao chão, Victor sentiu que a vitória teve um custo.
O ambiente ficou novamente tenso, e a sensação de desconfiança entre ele e Ragnar estava mais forte do que nunca. Eles haviam derrotado mais um inimigo, mas a floresta estava longe de ter revelado todos os seus segredos.
"Você está começando a entender, não é?", Ragnar disse, olhando Victor com uma expressão enigmática.
Victor, ofegante e suado, apenas observou Ragnar com cautela. "A confiança não é uma vantagem aqui."
"Nem sempre", respondeu Ragnar. "Mas nunca se esqueça: no final, o que importa é quem sai com a vida."
E assim, com mais uma ameaça superada, ambos continuaram sua jornada, cientes de que o verdadeiro teste ainda estava por vir.