Chapter 2: Capítulo 2: A Primeira Prova
Victor acordou cedo naquele dia. O sol estava baixo no horizonte, e sua luz filtrava através das espessas nuvens que cobriam Osferia, lançando um brilho suave sobre a cidade de Caldera. O ar estava pesado, um toque úmido que trazia a sensação de que algo iminente estava por acontecer. Era o primeiro dia das Provas, e o mundo parecia estar aguardando em silêncio o desenrolar de um novo ciclo de desafios, dores e revelações.
Dentro de sua casa, o som do metal batendo nas fornalhas dos Forges e o cheiro de óleo de máquina penetravam pela janela quebrada do quarto de Victor. Sua família, embora preocupada, tentava manter uma aparência calma. Lyra, sua mãe, estava preparando um prato simples para o café da manhã, enquanto Kara corria pela casa com um sorriso nervoso no rosto. O ritual diário parecia irrelevante agora, como se o peso de algo muito maior estivesse sobre todos.
Victor ainda se encontrava deitado, o olhar fixo no teto rachado, tentando organizar seus pensamentos. A sensação de impotência que sempre o acompanhara, desde que descobrira sua habilidade limitada de manipulação gravitacional, estava mais forte do que nunca. Ele sabia que, para sobreviver nas Provas, teria que lutar com todas as suas forças, mas a incerteza sobre sua habilidade o deixava ansioso. A ideia de enfrentar participantes mais poderosos, todos com habilidades extraordinárias, parecia distante de sua realidade.
"Victor, é hora", disse a voz de seu pai, Eldan, ecoando no corredor. "As Provas começam em breve. Não podemos mais adiar."
Victor levantou-se lentamente. Sentiu o peso de seu corpo, e então o peso das responsabilidades que se impunham sobre ele. Ele vestiu suas roupas simples, de couro surrado, e olhou-se no espelho. O reflexo era familiar, mas o olhar nos olhos era diferente: não era mais o olhar de um jovem comum, mas o de alguém prestes a ser testado nos limites de sua existência.
A cidade de Caldera, como muitas outras em Osferia, tinha um grande espaço público onde as Provas eram iniciadas. Fica no centro, uma enorme arena ao ar livre, cercada por altos muros de metal enferrujado e com estruturas de ferro espalhadas, lembrando a decadência da antiga civilização. Ali, todos os participantes se reuniriam, observados por uma multidão de cidadãos e outros concorrentes.
Victor caminhava pela rua com passos decididos, mas seu corpo estava tenso. Ao seu redor, outros participantes iam se agrupando em silêncio. Alguns eram mais velhos, com olhares confiantes; outros mais jovens, com olhos que expressavam o mesmo medo que ele sentia. A cidade estava em ebulição, todos aguardando o momento de entrar no portal das Provas.
O Portal das Provas era um artefato místico e complexo, uma enorme máquina formada por engrenagens de cobre e cristal, com símbolos misteriosos entalhados nas suas superfícies. Ele estava em funcionamento constante, seu zumbido reverberando pelo ar, enquanto um campo de energia azul brilhante se formava no centro, convidando os participantes a entrarem nele. Esse portal, uma junção de magia e ciência, era o meio de transporte para os terrenos das Provas — uma terra selvagem e mutante onde as leis da física eram distorcidas e as ameaças, implacáveis.
Victor observou o portal enquanto se aproximava. O zumbido da máquina parecia ecoar em seu peito, fazendo seu coração bater mais rápido. Ele sabia que, ao entrar ali, não haveria volta. A cidade, sua família, tudo o que ele amava, estava dependendo do seu sucesso.
"Victor", disse sua mãe, com um sorriso suave, mas os olhos marejados. "Volte para casa. Não importa o que aconteça, você sempre terá um lar."
Victor sentiu um aperto no peito, mas não podia se dar ao luxo de hesitar. Seu pai lhe deu uma última palavra de encorajamento, apertando-lhe o ombro com força. "Mostre a eles que você não é apenas um Rank E."
Com um último olhar para sua mãe e irmã, Victor entrou no Portal. A energia ao seu redor o envolveu, e, em um instante, ele foi transportado para um novo mundo.
Victor caiu no chão com um baque surdo. Quando se levantou, seus olhos arregalaram-se diante da paisagem ao seu redor. Ele estava em uma floresta densa, com árvores altas e escuras, que pareciam observar cada movimento com olhos invisíveis. O ar estava pesado, e uma névoa espessa se espalhava entre as árvores, dificultando a visão. O solo era irregular, coberto por musgo e raízes que se entrelaçavam, tornando a caminhada ainda mais difícil.
Ele percebeu que não estava mais sozinho. Outros participantes haviam caído ao seu redor, alguns já se levantando, outros permanecendo no chão, tentando se recompor. Alguns, mais fortes e experientes, pareciam ter caído com maior precisão e se levantaram rapidamente, enquanto outros lutavam para se manter de pé.
O zumbido do Portal desapareceu, e o silêncio tomou conta do ambiente. Em poucos minutos, uma voz ressoou por todo o campo, ecoando pela floresta. Era o Sistema das Provas, uma inteligência artificial misteriosa que organizava os desafios, e que agora parecia estar se comunicando diretamente com os participantes.
"Bem-vindos à Primeira Prova. O objetivo é simples: sobrevive. A primeira etapa testará suas habilidades de sobrevivência em um ambiente hostil. Tragam sua comida, suas armas, suas forças. O tempo começa agora."
O ar se tornou mais pesado. A tensão no ambiente aumentou. Victor não tinha comida, nem armas, e sua habilidade de manipulação gravitacional não seria suficiente para enfrentar qualquer ameaça que surgisse. Ele se sentia vulnerável, mas não podia desistir.
"Sobreviver", ele murmurou para si mesmo, os olhos focados nas árvores à sua frente. Ele sabia que teria que usar sua mente, sua astúcia, para sobreviver.
Enquanto os outros competidores começavam a se afastar e buscar os primeiros recursos, Victor parou e observou os arredores. Ele sabia que a floresta, com seu ar carregado de perigos, seria um lugar difícil. Cada sombra, cada movimento das árvores, era uma ameaça à sua vida.
Victor respirou fundo, tentando acalmar os nervos. Ele sabia que as Provas não seriam apenas sobre força ou poder. Ele precisava sobreviver com o que tinha, e, por mais simples que fosse, ele tinha algo que poderia ser crucial: sua habilidade de manipulação gravitacional.
A primeira decisão importante foi tomar o caminho para a esquerda. A estrada em frente estava cheia de competidores mais fortes, e ele não tinha intenção de ser apenas mais um na batalha por recursos. Ele precisava ser inteligente, não só forte.