Blue Exorcist: O Mestre da Terra

Chapter 2: Capítulo 2: Cicatrizes que Moldam



O dia seguinte ao rigoroso treinamento de Keyon amanheceu com o som familiar de sinos na Academia Vera Cruz. Para os estudantes que haviam participado do teste do exorcista prodigioso, o corpo doía, mas a mente estava mais alerta. Eles comentavam entre si sobre as lições aprendidas e sobre o quão devastadoramente eficaz Keyon era em suas habilidades. Muitos olhavam para ele agora não apenas como um exorcista lendário, mas como um ideal a ser alcançado.

Enquanto os corredores da academia vibravam com as conversas animadas, Keyon estava sentado no alto de uma das torres, contemplando o horizonte. O sol nascente pintava os telhados da academia com um brilho dourado, mas seus olhos permaneciam fixos em um ponto distante, como se estivessem presos em memórias que ainda queimavam em sua mente.

Ele suspirou profundamente. Por mais que gostasse de inspirar os jovens exorcistas, havia algo que ele não podia compartilhar com eles — a sombra de seu passado. A verdade de sua origem como meio-humano, meio-demônio era um fardo que ele carregava sozinho, e, mesmo com seu controle impecável, às vezes sentia o peso de sua linhagem escurecendo seus pensamentos.

Decidido a afastar esses pensamentos, Keyon desceu da torre e caminhou até o arquivo central da academia, um lugar onde antigos registros de missões e documentos sobre demônios eram mantidos. Ele não estava ali para revisitar textos acadêmicos ou relatórios, mas para encontrar uma lembrança: o grimório de sua mãe.

Ao entrar na sala de arquivos, o cheiro de pergaminho envelhecido e tinta o envolveu. O bibliotecário, um homem idoso com óculos redondos, levantou a cabeça ao vê-lo.

— Keyon Arks. Não é sempre que temos a honra de sua visita. O que o traz aqui hoje?

— Estou procurando algo pessoal. Um grimório que foi transferido para cá há alguns anos. Pertencia à minha mãe, Lívia Arks.

O bibliotecário assentiu lentamente, reconhecendo o nome. Ele caminhou até uma seção isolada da biblioteca e retornou com um livro pequeno, de capa vermelha, adornado com um símbolo gravado em dourado: o emblema da família Arks.

— Aqui está. Espero que isso traga as respostas que você procura.

Keyon segurou o grimório com cuidado, sentindo uma onda de emoção ao tocar o objeto. A última vez que vira aquele livro fora antes da morte de sua mãe, uma mulher forte que sacrificara tudo para protegê-lo. Ela era humana, mas tinha um conhecimento profundo sobre magia e invocação. Ele sabia que dentro daquele livro estavam segredos que ela nunca tivera a chance de lhe ensinar.

Ele se sentou em uma mesa próxima e abriu o grimório, passando os dedos pelas páginas amareladas. As palavras escritas à mão em uma caligrafia elegante traziam feitiços de invocação, técnicas avançadas de manipulação elemental e, para sua surpresa, anotações pessoais.

Uma delas chamou sua atenção: "Para Keyon, meu filho amado. Se algum dia você ler isso, espero que se lembre de que sua força não vem apenas de sua linhagem, mas de quem você escolhe ser. Nunca tema o que você é. Use isso para proteger os outros, como eu protegi você."

Keyon fechou os olhos por um momento, lutando contra as lágrimas. Ele sentia a presença dela naquele instante, como se as palavras dela ainda ecoassem em sua mente.

Enquanto Keyon estava absorto em seus pensamentos, um som suave de passos ecoou pela biblioteca. Ele ergueu os olhos e viu Yukio se aproximando.

— Eu sabia que encontraria você aqui. Sempre que desaparece, está em algum canto da academia refletindo sobre algo.

Keyon deu um leve sorriso.

— Não consigo evitar. Este lugar tem muitas lembranças. Algumas boas, outras... mais difíceis.

Yukio percebeu o grimório nas mãos de Keyon e fez uma expressão de compreensão.

— O grimório da sua mãe. Faz sentido. Você está pensando nela, não é?

Keyon assentiu, fechando o livro com cuidado.

— Sempre penso nela, Yukio. Ela me deu tudo o que sou, mas às vezes me pergunto se estou honrando o sacrifício dela da maneira certa.

Yukio colocou a mão no ombro de Keyon, um gesto raro de conforto vindo dele.

— Você está. Não há dúvida disso. Os estudantes que você treinou ontem... você deveria ter visto os rostos deles depois. Eles estavam exaustos, mas nunca os vi tão determinados. Isso é porque você os inspirou, Keyon.

Keyon permaneceu em silêncio por um momento antes de se levantar.

— Obrigado, Yukio. Acho que é hora de voltar para o que faço de melhor.

Pouco tempo depois, Keyon foi chamado pelo diretor Mephisto Pheles, que, como sempre, tinha um sorriso enigmático no rosto.

— Ah, meu caro Keyon! Você chegou em boa hora. Tenho uma missão que exige suas habilidades únicas. Parece que um grupo de demônios está causando problemas em uma vila remota. Nada que você não possa resolver, é claro.

Keyon estreitou os olhos.

— Qual é o nível de ameaça?

Mephisto riu suavemente.

— Digamos que é um desafio adequado para alguém do seu calibre. Considere isso uma oportunidade para testar seus limites novamente.

Keyon aceitou a missão sem hesitar, sabendo que cada batalha o aproximava não apenas de se tornar mais forte, mas de honrar o legado de sua mãe.

Enquanto se preparava para partir, ele olhou uma última vez para o grimório, colocando-o com cuidado em sua bolsa.

— Eu nunca vou esquecer o que você me ensinou, mãe.


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