Bungo Stray Dogs: O Livro do Infinito

Chapter 2: Capítulo 2: Cidade de Sombras



A chuva ainda gotejava no silêncio da madrugada quando Kenshiro Ryujin entrou em uma cafeteria pouco movimentada, buscando um momento de reflexão. O aroma do café fresco preenchia o ar, misturando-se ao som suave do trovão ao longe. Ele ocupou um assento no canto mais afastado, observando as ruas através da vidraça embaçada.

Seu caderno, "O Livro Infinito," repousava sobre a mesa. A superfície de couro antigo parecia pulsar, como se estivesse sintonizada com o ritmo de seus pensamentos. Kenshiro ainda não compreendia completamente sua habilidade, mas sabia que ela era tão perigosa quanto fascinante.

Ele lembrou-se do olhar de Akutagawa e Kunikida durante o confronto anterior. Havia admiração, talvez medo, mas também curiosidade. E Kenshiro sabia que a curiosidade poderia ser uma arma poderosa ou uma fraqueza fatal.

Enquanto girava a xícara de café em suas mãos, sentiu uma presença. Não era hostil, mas também não era amigável. Kenshiro ergueu os olhos e encontrou um homem magro, com uma bandagem cobrindo seu olho direito, sorrindo de maneira relaxada.

— Você deve ser Kenshiro Ryujin — disse Dazai Osamu, puxando uma cadeira sem ser convidado. — Confesso, estava curioso para conhecer o homem que neutralizou Akutagawa com tanta facilidade.

Kenshiro permaneceu em silêncio por alguns instantes, estudando o intruso. Dazai exalava uma despreocupação que parecia forçada, quase como se fosse uma fachada cuidadosamente mantida.

— E você deve ser Dazai Osamu — respondeu Kenshiro finalmente, sua voz firme mas calma. — O estrategista irreverente da Agência de Detetives Armados.

Dazai sorriu ainda mais.

— Ora, você faz sua lição de casa! Isso é bom. Mas vamos ao ponto: sua habilidade é intrigante. Já pensou em usá-la para algo maior?

Kenshiro inclinou-se ligeiramente para frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— E o que seria "algo maior" para você?

Dazai ergueu as mãos, como se mostrasse inocência.

— Digamos que a Agência precisa de aliados talentosos. Pessoas como você poderiam ajudar a proteger Yokohama de ameaças... ou, ao menos, torná-la um lugar menos caótico.

Kenshiro esboçou um sorriso leve.

— Um convite direto ou uma sondagem?

— Um pouco dos dois. — Dazai piscou com o olho visível.

Kenshiro ponderou por um momento, tomando um gole de café. Ele sabia que ser aliado da Agência poderia trazer vantagens, mas também o tornaria um alvo para outras forças em Yokohama. Além disso, ele precisava de tempo para entender suas próprias intenções neste mundo.

— Por enquanto, prefiro observar — disse Kenshiro, sua voz cortante mas sem hostilidade. — Se vocês precisarem de mim, sabem onde me encontrar.

Dazai ficou em silêncio por alguns segundos, antes de rir suavemente e se levantar.

— Justo. Mas cuidado, Kenshiro. Yokohama é como um livro mal escrito: cheia de capítulos imprevisíveis e personagens traiçoeiros.

Ele deixou a cafeteria, desaparecendo na chuva como se nunca tivesse estado lá. Kenshiro observou-o ir embora e, pela primeira vez, sentiu que este mundo poderia oferecer desafios além de sua imaginação.

Mais tarde naquela noite, Kenshiro estava caminhando por um distrito abandonado quando uma figura emergiu das sombras. Akutagawa Ryunosuke, com seu casaco flutuando como uma extensão de seu corpo, bloqueava o caminho.

— Kenshiro Ryujin — começou Akutagawa, sua voz carregada de rancor. — Você humilhou Rashomon. Isso não ficará impune.

Kenshiro suspirou, pegando calmamente o caderno.

— Não estou interessado em rivalidades — disse ele. — Mas se você insiste, mostre-me o que tem.

Rashomon rugiu, lançando-se como uma fera faminta em direção a Kenshiro. Sem hesitar, ele abriu "O Livro Infinito" e escreveu:

"As sombras de Rashomon foram domadas pela luz de uma narrativa mais forte."

Uma barreira translúcida surgiu à frente de Kenshiro, dissipando o ataque de Rashomon. Akutagawa cambaleou para trás, surpreso, mas não desistiu. Ele avançou novamente, mais feroz, até que uma nova voz ecoou pelo beco.

— Chega, Akutagawa.

Chuuya Nakahara apareceu, suas botas ecoando pelo chão molhado enquanto ele ajeitava seu chapéu característico.

— Mori Ougai quer que Kenshiro vivo. Não destrua as coisas para nós.

Akutagawa hesitou, mas abaixou Rashomon, embora seu olhar permanecesse cheio de raiva.

Chuuya virou-se para Kenshiro e sorriu com um misto de cortesia e ameaça.

— O chefe gostaria de conhecê-lo, Kenshiro. Talvez discutir como podemos... aproveitar melhor seus talentos.

Kenshiro fechou seu caderno com um estalo suave.

— Transmita ao seu chefe minha resposta: eu não sou um peão para ser usado.

Chuuya riu, mas havia um tom de respeito em sua voz quando respondeu:

— Gosto do seu estilo. Vamos ver quanto tempo você consegue manter essa posição.

Ele se virou e desapareceu com Akutagawa nas sombras, deixando Kenshiro sozinho sob a luz fraca do beco.

Kenshiro sabia que, para sobreviver em Yokohama, precisaria mais do que poder. Precisaria navegar pelas alianças, rivalidades e mistérios que tornavam esta cidade única.

Ele abriu "O Livro Infinito" mais uma vez, escrevendo calmamente:

"O equilíbrio será alcançado, mas não sem um preço."


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