Chapter 3: Capítulo 3: Tramas no Silêncio da Cidade
O vento sibilava pelas ruas estreitas de Yokohama, levando consigo folhas amareladas e pedaços de papel que dançavam no ar como fantasmas esquecidos. Kenshiro Ryujin caminhava com passos firmes, cada passo ecoando suavemente contra as paredes úmidas dos prédios antigos. A noite era sua companheira mais constante, envolvendo-o em um manto de tranquilidade, mas também de perigos escondidos.
O céu estava encoberto por nuvens pesadas que escondiam as estrelas, criando um véu de escuridão pontuado apenas pela luz mortiça dos postes de rua. Ele se movia em direção a um local específico, um ponto marcado em sua mente desde que começara a explorar a cidade. Não era apenas uma caminhada sem rumo; Kenshiro era guiado por uma intuição silenciosa, uma voz interna que parecia conhecer as engrenagens invisíveis deste mundo.
No entanto, algo o incomodava. Desde o encontro com Dazai e o confronto com Akutagawa e Chuuya, ele sentia como se estivesse sendo observado. Não de maneira óbvia, mas com a sutileza de um predador à espreita, aguardando o momento certo para atacar. Kenshiro desacelerou seus passos e inclinou levemente a cabeça, permitindo que sua visão periférica captasse qualquer movimento suspeito.
Por um momento, nada. Apenas o som abafado da cidade em movimento à distância e o farfalhar das folhas. Mas então, um sutil estalo de gravetos veio de um beco à esquerda. Ele não olhou diretamente, mantendo seu ritmo e a aparência de desinteresse. Contudo, sua mão deslizou para o caderno preso ao coldre lateral, os dedos roçando a capa de couro antigo como se o objeto fosse uma extensão de sua própria vontade.
Ao virar a esquina, Kenshiro encontrou o que buscava: um prédio abandonado que outrora fora um pequeno teatro. A fachada, agora desgastada pelo tempo, ainda exibia vestígios de sua glória passada — colunas ornamentadas, um letreiro desbotado e janelas altas adornadas com vidro manchado. Ele havia ouvido rumores de que este lugar servia como um ponto de encontro para aqueles que trabalhavam à margem das grandes facções de Yokohama. Mercenários, informantes e renegados.
Ele empurrou a porta principal, que rangeu em protesto, revelando um saguão mergulhado na penumbra. O ar era pesado com o cheiro de mofo e madeira apodrecida, mas Kenshiro sentiu algo mais. Uma presença. Várias, na verdade.
Sem hesitar, ele adentrou o local. Seus olhos violetas brilhavam fracamente, captando detalhes que poderiam escapar à visão comum. O salão principal do teatro estava praticamente vazio, exceto por algumas cadeiras espalhadas e uma figura encapuzada sentada no centro, com as mãos cruzadas sobre o colo.
— Você demorou — disse a figura, a voz grave reverberando pelo espaço vazio.
Kenshiro não respondeu de imediato. Ele permaneceu imóvel, avaliando cada canto do ambiente, antes de finalmente falar:
— Se você sabia que eu viria, então também sabe que não gosto de jogos. Fale logo.
A figura riu suavemente, puxando o capuz para revelar um rosto marcado por cicatrizes, mas com olhos astutos e um sorriso enigmático.
— Meu nome é Hajime. Eu lidero um pequeno grupo... de interessados nas lacunas de poder em Yokohama. E você, Kenshiro Ryujin, parece ser a peça que faltava para nosso quebra-cabeça.
Kenshiro deu um passo à frente, mas manteve uma distância segura.
— Se quer minha atenção, seja específico. O que exatamente você busca?
Hajime inclinou-se para frente, os olhos brilhando com uma intensidade perigosa.
— Conhecimento. Sobre as habilidades, suas origens e, mais importante, o que elas podem realmente fazer. Esse mundo está repleto de pessoas que apenas arranham a superfície do potencial de seus dons. Eu quero ir além. E você, com sua habilidade de escrever a realidade, é a chave para isso.
Kenshiro apertou o caderno em sua mão. Ele não confiava em Hajime, mas as palavras do homem despertaram uma curiosidade latente. Afinal, ele mesmo compartilhava dessa busca por respostas.
— E por que eu confiaria em você? — perguntou Kenshiro, a voz baixa, mas carregada de desafio.
Hajime se recostou na cadeira, o sorriso nunca deixando seu rosto.
— Não estou pedindo sua confiança. Apenas sua colaboração. Trabalhe comigo, e prometo que ambos obteremos as respostas que buscamos.
Kenshiro permaneceu em silêncio por um longo momento, os pensamentos correndo como páginas sendo viradas rapidamente. Ele sabia que entrar nesse tipo de aliança poderia ser um risco. Mas também sabia que, em Yokohama, os riscos eram inevitáveis.
Antes que pudesse responder, o som de passos ecoou pelo teatro, seguido pelo estalo inconfundível de um revólver sendo engatilhado. Kenshiro virou-se lentamente e viu uma mulher parada na entrada, com uma pistola apontada diretamente para ele. Ela tinha cabelos negros curtos e olhos frios, como um predador que finalmente encontrara sua presa.
— Espero não estar interrompendo — disse ela, o tom de sarcasmo evidente.
Hajime suspirou, levantando-se calmamente.
— Ah, Aika. Sempre tão dramática. Ele ainda não é nosso inimigo.
Aika não abaixou a arma, mas seu olhar se fixou em Kenshiro, avaliando-o com cuidado.
— Todos aqui são inimigos até que provem o contrário.
Kenshiro, sem se mover, abriu "O Livro Infinito" com um gesto suave. A atmosfera na sala mudou instantaneamente. Hajime deu um passo para trás, e Aika estreitou os olhos, apertando o gatilho levemente.
— Se eu fosse um inimigo, você já estaria lutando por sua vida — disse Kenshiro, escrevendo uma única frase no caderno.
"Aika abaixou sua arma, sentindo uma súbita onda de confiança no estranho à sua frente."
Aika piscou, como se algo invisível a tocasse, e abaixou a arma lentamente, sem perceber o que a havia levado a fazer isso. Kenshiro fechou o livro com um leve sorriso.
— Agora que estamos mais... civilizados, talvez possamos conversar como adultos.
Hajime soltou uma gargalhada curta.
— Vejo que você será muito interessante, Kenshiro. Muito interessante.
E assim, naquele teatro decadente, as primeiras peças começaram a se mover em um tabuleiro invisível. Kenshiro sabia que havia mergulhado ainda mais fundo nos mistérios de Yokohama, mas a verdadeira questão era: quem controlava o jogo?