Bungo Stray Dogs: O Livro do Infinito

Chapter 5: Capítulo 5: Visitas Inesperadas



A noite cobria a cidade de Yokohama como um manto escuro, engolindo as luzes e o som da movimentação urbana. A fábrica desativada, agora um refúgio improvisado para o grupo de Hajime e Aika, parecia ainda mais isolada sob o céu nublado. Dentro das paredes de concreto e aço, o som do vento era a única companhia, até que um novo som se fez ouvir: passos furtivos, leves como a brisa, mas marcando a presença de algo ou alguém.

Kenshiro estava sentado em uma mesa improvisada no fundo da fábrica, os olhos fixos no livro. Ele não estava perdido em suas palavras, mas na crescente inquietação que sentia. Algo estava acontecendo fora dali, algo que ele não poderia ignorar. Seu instinto, afiado como uma lâmina, dizia que estavam sendo observados.

Do outro lado da sala, Hajime estava sentado com Aika, discutindo suas estratégias de infiltração, mas uma tensão no ar os alertava de que algo estava prestes a acontecer. Nenhum deles sabia ainda, mas uma pequena força mercenária se aproximava silenciosamente.

Kenshiro fechou o livro e olhou ao redor, seus olhos penetrantes parecendo capturar cada movimento na escuridão. Ele sentiu o cheiro de metal e poeira no ar, como se a própria sala estivesse prestes a explodir. Ele não acreditava em coincidências, e a chegada iminente dos mercenários não era uma delas. Sem um gesto, sem um som, ele se levantou e saiu para o exterior da fábrica.

No escuro da noite, um grupo de mercenários, vestidos com trajes escuros e camuflados nas sombras, se aproximava da entrada da fábrica. Eles eram como sombras em si, seus passos cuidadosamente abafados e suas respirações quase inaudíveis. Sabiam que não poderiam subestimar a força do grupo dentro, especialmente com as habilidades de Hajime, Aika e agora o enigmático Kenshiro.

"Vamos agir rápido", sussurrou o líder dos mercenários, uma mulher de cabelos curtos e expressão severa, observando a fábrica à distância. Ela apontou para o grupo de combatentes. "Eliminem todos, mas mantenham o homem de cabelo branco vivo. Ele é a chave."

Eles avançaram, uma unidade tática coordenada, com os movimentos sincronizados de quem havia treinado juntos por muito tempo. Mas o silêncio da noite não foi o único elemento que as sombras enfrentariam.

Kenshiro estava em posição, escondido atrás de uma pilastra enferrujada da entrada. Seus olhos brilharam de um azul profundo, e em sua mente, o livro se reabriu, sua pena se movendo com uma precisão sobrenatural.

"À distância, as sombras podem ser confundidas com o vento. Mas o vento, quando manipulado, pode tornar-se algo muito mais mortal."

Com um movimento suave da mão, Kenshiro começou a invocar. Não seria uma simples ilusão ou manipulação de espaço – não, ele desejava algo mais tangível. Algo mais visceral. O chão da fábrica tremeu levemente, e uma brisa fria se formou ao redor, como um sinal.

Com um gesto, uma corrente de ar se formou no centro da entrada da fábrica. Ela se solidificou rapidamente, como uma lâmina de vento afiado, cortando a escuridão. A mulher mercenária que liderava o grupo sentiu um calafrio na espinha, mas não teve tempo de reagir. O vento cortante cortou a linha da frente dos mercenários, levantando a poeira do chão e criando um escudo invisível, quase impenetrável. A lâmina de ar dançou com precisão, atingindo os mercenários que estavam mais à frente, ferindo-os levemente, mas o suficiente para desorientá-los.

Kenshiro observava tudo com uma calma imperturbável, os dedos ainda leves sobre o livro. Ele sabia que o vento não era o suficiente para aniquilar o grupo. Era um primeiro aviso, uma demonstração de poder.

Não satisfeito com a primeira jogada, ele fechou os olhos por um momento e murmurou outra palavra no livro, desta vez mais lenta, quase como um feitiço antigo sendo proferido em um idioma perdido.

"A sombra que caminha à noite tem em seu interior o fogo do submundo. Chama que não se vê, mas que queima sem piedade."

Num piscar de olhos, o ar ao redor da entrada da fábrica se escureceu, e as sombras ao redor começaram a se condensar, tornando-se densas como carvão. Mas não eram sombras comuns; eram sombras vivas, impregnadas de calor intenso. Elas começaram a se mover, deslizando em direção aos mercenários, suas formas maleáveis se alongando e se esticando como se tivessem vontade própria. Com um estalo, elas explodiram em chamas negras, envolvendo os inimigos na escuridão incandescente.

A mulher líder gritou em pânico, desviando-se das sombras flamejantes que surgiram do nada. Ela sabia que aquelas chamas não eram comuns. Eram sobrenaturais, imunes à água, ao vento e até mesmo ao próprio fogo.

"Retirem-se! Retrocedam!" ela ordenou, tentando controlar o caos. Mas seus homens estavam em pânico. As sombras queimavam suas roupas e pele, deixando cicatrizes profundas que se curavam lentamente, como se o fogo não fosse apenas físico, mas algo que consumia a própria alma.

Kenshiro, ainda posicionado em seu ponto estratégico, observava com um interesse clínico. Ele não estava movido por raiva ou vingança, mas pelo desejo de compreender os limites de suas habilidades e, mais importante, as reações dos outros ao seu poder. Ele sabia que Hajime e Aika estavam observando, mas não queria que soubessem o quanto de seu poder ele ainda escondia.

Ele sorriu suavemente, suas mãos ainda no livro. As sombras começaram a se dissipar lentamente, os mercenários ainda em fuga, desesperados para escapar daquilo que não podiam compreender.

Finalmente, a mulher líder conseguiu organizar seu grupo e ordenou uma retirada estratégica. Mas, antes que ela pudesse dar a ordem completa, Kenshiro fez o último movimento. Com um simples estalar de dedos, ele invocou uma coluna de gelo que se formou rapidamente ao redor da entrada da fábrica. O gelo se elevou como uma barreira, bloqueando a fuga dos mercenários e prendendo-os no local.

"Vocês não estão saindo tão facilmente", disse Kenshiro com um tom desinteressado, quase como se fosse uma simples demonstração de sua paciência testada.

Ele olhou para os mercenários, cujos rostos mostravam uma mistura de medo e respeito. Um dos homens tentou usar uma faca para quebrar o gelo, mas não teve sucesso. O olhar de Kenshiro encontrou o da mulher líder, e ele sorriu novamente, mas desta vez com um toque de diversão.

"Agora, vamos ver até onde essa caçada pode ir." Disse Kenshiro enquanto colocava suas mãos nos bolsos do casaco.

Kenshiro se afastou da entrada, seu trabalho feito por enquanto. Ele sabia que o jogo estava apenas começando. O que mais viria, ele ainda não sabia, mas não podia deixar de sentir que a noite ainda guardava muitas surpresas, para ele e para aqueles ao seu redor.

Enquanto isso, Hajime e Aika observavam de dentro da fábrica, suas expressões refletindo uma mistura de surpresa e cautela. Eles sabiam que o homem que haviam decidido aliar-se estava longe de ser comum. E, para eles, isso era tanto uma bênção quanto uma maldição.

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