Bungo Stray Dogs: O Livro do Infinito

Chapter 4: Capítulo 4: Laços de Desconfiança e Poder



A decisão de Kenshiro Ryujin de unir-se temporariamente ao grupo de Hajime não foi motivada por confiança, mas por estratégia. Ele sabia que a verdadeira força de Yokohama residia no jogo de informações, alianças e traições, e estar ao lado de figuras como Hajime e Aika lhe permitiria explorar o submundo da cidade enquanto mantinha suas intenções veladas. Ainda assim, sua natureza cuidadosa exigia que ele testasse os limites dessa aliança – e, ao mesmo tempo, os limites de seu próprio poder.

Após o encontro inicial no teatro, Hajime convidou Kenshiro a visitar o esconderijo do grupo. Era uma antiga fábrica desativada nos arredores da cidade, o tipo de lugar que respirava abandono e histórias enterradas sob o concreto e a ferrugem. O caminho até lá era silencioso, com Hajime liderando e Aika andando alguns passos atrás, claramente desconfiada.

Kenshiro não se importava. Ele caminhava em meio à neblina da noite com sua postura usual, o caderno firme em sua mão, observando cada detalhe ao redor. À medida que se aproximavam da fábrica, ele começou a planejar. Não confiava totalmente em Hajime e Aika, e estava decidido a usar aquele momento para experimentar sua habilidade em um cenário mais dinâmico.

A fábrica era uma estrutura imponente, com janelas quebradas e pilares corroídos pelo tempo. Ao entrar, Kenshiro percebeu que o interior havia sido transformado em um misto de quartel-general improvisado e depósito. Mapas estavam pregados nas paredes, ao lado de quadros com fotos de figuras proeminentes de Yokohama, incluindo membros da Agência de Detetives Armados e da Máfia do Porto.

Hajime sorriu, percebendo o olhar atento de Kenshiro.

— Impressionado? É um trabalho constante, reunir informações, estabelecer rotas de influência. Mas o mais importante é que este lugar é um terreno neutro. Aqui, somos livres para explorar nossas ideias sem as restrições das facções.

Kenshiro não respondeu imediatamente. Ele se aproximou de uma mesa central onde estavam espalhados livros antigos, objetos de pesquisa e dispositivos tecnológicos. Passou os dedos por um dos livros, o olhar distante, mas a mente trabalhando rapidamente.

— Ideias livres, não é? — disse finalmente. — Vamos ver se isso inclui experimentos.

Hajime arqueou uma sobrancelha, intrigado.

— Experimentos?

Kenshiro abriu "O Livro Infinito" com um movimento suave, a aura do objeto preenchendo o espaço com uma energia tangível.

— Minha habilidade é tão ampla quanto a imaginação permite, mas nunca confio em nada que não tenha testado exaustivamente. Considere isso... um ensaio.

Hajime cruzou os braços, claramente interessado. Aika, no entanto, parecia menos convencida, observando cada movimento de Kenshiro como se estivesse pronta para agir ao menor sinal de perigo.

Kenshiro começou a escrever no livro, a pena deslizando sobre o papel com uma fluidez hipnótica.

"Os pilares ao redor da sala começaram a se transformar, assumindo formas que desafiavam a lógica arquitetônica. Linhas retas se curvavam, ângulos impossíveis surgiam, e o espaço parecia se expandir e contrair simultaneamente."

Imediatamente, os pilares da fábrica começaram a mudar. O metal e o concreto assumiram formas fluidas, como se fossem feitos de água solidificada. Aika deu um passo atrás, os olhos arregalados, enquanto Hajime apenas observava com fascínio.

— Você pode manipular o ambiente com tamanha precisão... impressionante.

— Isso é apenas o começo — respondeu Kenshiro, a voz baixa, mas firme.

Sem perder tempo, ele virou a página do livro e começou a escrever novamente, desta vez com mais cuidado.

"Do véu entre as histórias e a realidade, surge o espírito de um guerreiro do passado, sua lâmina brilhando com o fogo das lendas."

Uma névoa começou a se formar no centro da sala, densa e quase palpável. De dentro dela, uma figura emergiu: um samurai alto e imponente, com uma armadura reluzente e uma espada longa cuja lâmina parecia brilhar com chamas vivas. Ele se ajoelhou diante de Kenshiro, aguardando ordens.

Aika finalmente perdeu a compostura, puxando sua arma novamente.

— O que diabos você está fazendo? Isso é perigoso!

Kenshiro ergueu uma mão, gesticulando calmamente para o samurai.

— Levante-se, guerreiro. Testaremos sua força contra esta estrutura decadente.

O samurai se levantou, seus movimentos precisos como uma dança. Ele deu um único golpe contra uma das vigas da fábrica, e o impacto criou uma explosão de faíscas e fragmentos, sem, no entanto, comprometer a estrutura como um todo. Kenshiro sorriu, satisfeito.

— Fascinante — disse Hajime, embora houvesse uma cautela em sua voz agora. — Mas talvez seja prudente manter seus experimentos em controle, Kenshiro. Não queremos atrair atenção desnecessária... ou despertar inimigos que não estamos prontos para enfrentar.

Kenshiro fechou o livro, e o samurai se dissipou em névoa, assim como as alterações nos pilares. Ele olhou para Hajime, avaliando a expressão do homem.

— Considero isso como um sucesso. Agora, entendo um pouco mais sobre os limites da minha habilidade.

Aika guardou a arma com relutância, mas seus olhos ainda estavam fixos em Kenshiro.

— Só espero que você saiba o que está fazendo. Não somos idiotas para nos submeter cegamente ao que quer que você planeje.

Kenshiro deu de ombros.

— Nem espero isso. Aliás, prefiro assim.

Enquanto Kenshiro se afastava, Hajime permaneceu onde estava, um sorriso indecifrável no rosto. Ele sabia que Kenshiro era muito mais do que aparentava, e embora o homem fosse um aliado por ora, Hajime começava a pensar em como poderia usar "O Livro Infinito" para seus próprios fins.

Kenshiro, por outro lado, também tinha seus próprios planos. Ele havia notado a ambição oculta nos olhos de Hajime e a hostilidade mal disfarçada de Aika. Era evidente que o grupo não estava unido por laços de confiança, mas por conveniência. Para Kenshiro, isso tornava tudo ainda mais interessante.

Naquela noite, enquanto o vento soprava novamente pelas ruas de Yokohama, ele sentou-se sozinho em um dos cantos da fábrica, abrindo "O Livro Infinito" mais uma vez.

"No coração da escuridão, mesmo os aliados mais próximos carregam sombras de traição. Mas, para aqueles que observam com paciência, o jogo pode ser controlado pela mão mais criativa."


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